Obra pintada em prédio de BH é alvo de processo judicial - THE GAME

Obra pintada em prédio de BH é alvo de processo judicial

O Circuito Urbano de ArteCURA foi incluído criminalmente em inquérito da Polícia Civil que investiga a ocorrência de crime contra o meio ambiente. 

O inquérito investiga também os artistas envolvidos em um mural gigantesco no Centro de Belo Horizonte. O motivo: a presença de letras com a estética de pichações em uma das empenas da coleção do festival CURA. Se condenadas, as idealizadoras do CURA podem pegar até 4 anos de prisão. 

A pintura feita em um prédio no centro da capital mineira mostra uma mãe negra com um filho no colo, levando o outro pelas mãos. O painel "Deus é mãe", do artista paulista Robinho Santana, tem quase dois mil metros quadrados e faz parte de um projeto que está enchendo de cor os prédios na capital mineira desde 2017.

A curadora do projeto disse que foi intimada a explicar os traços que emolduram o painel. A Polícia diz que a investigação é sigilosa e não dá detalhes sobre o caso, mas a curadora do projeto fala que o inquérito investiga crime contra o ordenamento urbano e patrimônio cultural.

Quando o painel foi feito, em Setembro de 2020, segundo os organizadores, o autor do mural convidou pichadores para fazer uma intervenção na obra, uma forma de promover a diversidade cultural.

"É uma obra que contém a caligrafia com a estética do picho, então, ela está sendo criminalizada por isso", explicou a curadora e idealizadora do Festival CURA, Janaina Macruz Inácio.

 

(Foto Caio Flávio)

É a segunda obra do projeto alvo de questionamento. Outro painel, feito em 2018, tem cerca de 1.300 metros quadrados. Na época, um morador entrou na Justiça contra a pintura no condomínio. O processo ainda aguarda sentença.

"Não é coincidência nenhuma que as duas obras têm corpos negros representados. Elas são feitas por artistas negros. Então é o racismo estrutural, é uma perseguição à arte periférica", disse a curadora Janaina Macruz Inácio.

Por fim, o Departamento Estadual de Investigações de Crimes contra o Meio Ambiente, da Polícia Civil de Minas Gerais, por meio de uma atendente, informou que a posição oficial é que "o inquérito policial ocorre sob sigilo e, no momento oportuno, serão dadas mais informações".

O advogado que atende o CURA entrou com uma petição para trancamento do inquérito. "Agora, cabe ao Judiciário. Fisicamente, o inquérito ainda está na polícia, mas a competência passa a ser do TJMG", diz Felipe Soares, emendando que entende a ação como "autoritária e perigosa, por tentar cercear a liberdade artística".