Crescimento do mercado sneakerhead despenca após aumentos sucessivos de preços

Crescimento do mercado sneakerhead despenca após aumentos sucessivos de preços

Os sucessivos aumentos de preços de tênis, que estão acontecendo desde o fim da pandemia, anda fazendo despencar o crescimento do mercado sneakerhead e de acordo com um relatório recém publicado pelo Business of Fashion, o crescimento das vendas globais de tênis caiu em 2022. Sinalizando uma desaceleração do mercado, após um pico homérico de 19,5%, em 2021.

Uma grande número de lojas já estão até aplicando "valor adicional" em tênis disputados para tentar reverter prejuízos com baixas nas vendas após "custo Brasil", disparada do dólar, inflação e práticas comerciais agressivas que jogam os preços nas alturas.

Um ano antes da disseminação da COVID-19, um arco íris se abriu no céu nublado da vendas de sneakers. E o pote de ouro do outro lado era o Brasil, um mercado de 200 milhões de pessoas com uma cena sneakerhead cada vez mais crescente a ávida por lançamentos.

Em meio à pandemia o interesse só aumentou. Ter o tênis tão desejado nas mãos, para os sneakerheads, era uma forma de se sentir feliz em um momento tão triste para a humanidade. Com o aumento das vendas e o amadurecimento do mercado, cresceram também os bots de compra e os resellers, que aproveitaram a alta demanda para lucrar. Situação defenestrada em todas as rodas de conversa de apaixonados por tênis, mas que é normal em mercados maduros de vendas de tênis, como os Estados Unidos e Japão.

Porém, logo depois da vacinação em massa e da liberação da circulação de pessoas nas ruas e a consequente abertura do comércio, tudo mudou. A disparada do dólar, o aumento de 300% nas taxas alfandegárias, a falta de recursos na Receita Federal para um atendimento mais ágil e o crescimento da inflação fizeram os tênis alcançarem patamares de preços jamais vistos. Com muitos deles custando quase 2 salários mínimos.

(Gráfico que mostra que em 2022 o mercado de tênis finalmente perdeu força - Foto: BOF)

O baque no bolso dos sneakerheads foi imediato e a queda de vendas nas lojas voltadas para esse público, obviamente, seguiu o mesmo caminho. Hoje o que sustenta a operação de todas as marcas são as vendas de tênis generalistas ou esportivos, oferecidos em players como Centauro e Netshoes. Mas quem traz as marcas para o funil de desejo são os tênis mais raros e caros. Por isso a cena sneakerhead é tão importante para as fabricantes.

O novo Dunk Ebay foi alvo de uma polêmica muito grande na semana  passada porque uma loja resolveu vendê-lo acima do preço praticado pela Nike, algo bastante incomum. O valor regular de R$ 1.000 estava recebendo um acréscimo de mais R$ 500, totalizando R$ 1.500.

(Foto: Nike)

Proprietários de lojas que venderam o tênis por este preço, afirmaram que não há margem suficiente para lojas menores praticarem o preço sugerido e salientam que: "as pessoas estão comprando para revender, não para colecionar, e quem está ficando para trás são as lojas. Não tenho motivo para fazer pelo preço sugerido com o mercado do jeito que está".

Segundo lojistas, o mercado está do jeito que está por causa dos resellers que lucram mais que as lojas nas vendas e não têm compromisso legal com o cliente. E também por causa das grandes marcas, que exigem que as lojas comprem modelos regulares "que encalham para poder ter acesso aos QS (quick strike) que saem no mesmo dia".

Documentos de negociação de alguns tênis, vazados recentemente, mostram que um modelo que sai ao consumidor final por R$ 1.000 é vendido pela distribuidora das grande marcas por R$ 670 em média. Há ainda o diferencial de alíquota (Difal) de ICMS, que joga este valor para cerca de R$ 700. Ou seja, a margem para a loja fica em torno de R$ 300. Ela não é sensacional, mas também não é tão baixa. Porém, se a loja, para ter acesso a estes produtos QS que saem logo, precisa comprar tênis com vendas mais fracas e que ficam parados em estoque "para sempre", o negócio realmente entra em sinal amarelo.

As marcas também são pressionadas por custo de mercadorias estacionadas (o Vans Stranger Things está parado na Receita desde o Halloween), taxas malucas de transporte, falta de fornecedores após a pandemia e vários outros motivos que se juntam ao "custo Brasil" para jogar os preços lá no espaço.

Época triste para ser um sneakerhead.