COVID-19, criatividade e as mudanças no setor de apostas esportivas

COVID-19, criatividade e as mudanças no setor de apostas esportivas

Os apostadores aproveitam cada vez mais as opções diversas que são proporcionadas como forma de diversão para sair do tédio e alguns casos mais sério como uma nova modalidade de especialidade, isto é, profissão.

Por exemplo, a pandemia do novo coronavírus transformou o campeonato da Bielorrússia na liga de futebol mais assistida da Europa. E isso não é só por ser a única do continente em que a bola ainda rola, mas porque promove alguns dos poucos jogos em que se pode apostar. No Brasil, os adeptos dos sites do gênero tiveram que se acostumar à nova realidade e começaram a investir em competições alternativas.

Sob pressão da Organização Mundial da Saúde, o campeonato bielorrusso pode não durar muito, mas o basquete de Taiwan e do Tajiquistão, por exemplo, seguem firmes e tiveram aumento de 2.000% nas apostas no Tabcorp, principal empresa do ramo da Austrália. Mas nem sempre é necessário uma bola para gerar interesse de apostadores.

(Foto Getty Images)

Clientes de diversos sites ficaram apenas com a opção de arriscar seu dinheiro em eventos como as eleições nos EUA ou o Prêmio Nobel da Paz. No Brasil, o BBB e campeonatos de e-sports dominam boa parte das apostas. Frequentador assíduo destes sites por causa do futebol, o analista de comércio exterior Thiago Machado, de 24 anos, resistiu até que todos os principais campeonatos fossem suspensos.

"Aí comecei a olhar outros esportes, como tênis e corrida de galgos (uma raça de cães", conta Machado.

Os sites de apostas reservam perigos a eventuais clientes que não conseguem levar o jogo de maneira responsável, o que pode acarretar problemas pessoais, financeiros e até de saúde. Para especialistas, o futebol parado pode levar muitos a se aventurarem em áreas que não dominam, podendo ter perdas e dor de cabeça.

"Estão rolando apostas em campeonatos de videogame e no “BBB”, mas fiquei meio inseguro de investir. Não gosto de apostar no que não entendo muito." diz Machado.

A Europa tem o maior mercado de apostas esportivas online do mundo, e estima-se que ele movimente 25 bilhões de euros (cerca de R$ 140 bilhões) em 2020. No Brasil, segundo projeções do Ministério da Economia, o potencial é de movimentar até R$ 6 bilhões por ano a partir da sua regulamentação concreta, o que deve acontecer ainda este ano.

(Foto Bwin)

Na Série A do Brasileiro de 2019, a maioria dos clubes contava com alguma parceria ou patrocínio do setor. O site brasileiro Casa de apostas tem o futebol como carro-chefe, e tanto a paralisação das competições quanto a crise econômica representam prejuízos para a empresa.

"É difícil mensurar quando não há sequer previsão de volta normal das atividades", afirma o dono, Hans Schleier"Quanto ao público ativo, entendemos que não é hora de intensificar o estímulo ao entretenimento, apesar de considerá-lo necessário", finaliza.

Na tentativa de inovar, algumas plataformas estrangeiras permitem até mesmo apostar em situações de gosto duvidoso, como na expansão da Covid-19 e em como os países vão lidar com a doença. O Betfair, baseado no Reino Unido, porém, removeu apostas envolvendo o estado de saúde do primeiro-ministro Boris Johnson, internado na UTI com coronavírus nas últimas semanas. A empresa removeu do site apostas como "próximo líder conservador" e "próximo primeiro-ministro" após a piora no quadro do político, que já se tratou.

(Foto Betting Betfair)

Após a publicação da reportagem, o Betfair esclareceu que "os mercados de apostas políticas em futuros candidatos à liderança do partido e o próximo primeiro-ministro estavam no Betfair desde 2019 e não eram, de forma alguma, reacionários à saúde do primeiro-ministro". Na realidade, após a notícia, os mercados políticos existentes há tempos relacionados ao próximo primeiro-ministro e ao próximo líder do partido foram suspensos e retirados de nosso site imediatamente, e permaneceram assim desde então.

As apostas consideradas de cota fixa foram legalizadas no Brasil em 2018, e são consideradas como uma loteria esportiva. Essa é a categoria na qual o jogador sabe no momento em que investe o dinheiro o quanto poderá ganhar caso acerte. No entanto, ela ainda depende de regulamentação.

A maioria dos sites de apostas esportivas online são hospedados em países estrangeiros, e não infringe a lei local. Um estudo da Universidade de Sorbonne mostra que existem mais de 8 mil sites de apostas esportivas em todo o mundo. Estima-se que ao menos 500 deles ofereçam jogos brasileiros, operando no país sem qualquer tributação, regulamentação ou controle.

O governo federal tem planos de regulamentar o setor de apostas esportivas ainda este ano. Uma consulta pública foi iniciada com entidades interessadas no tema, mas o projeto está paralisado no momento.