20 anos de Slipknot e o porque de suas máscaras serem importantes

20 anos de Slipknot e o porque de suas máscaras serem importantes

Por Matheus Castro

Alemães possuem palavra para tudo. Uma delas, Maskenfreiheit, refere-se à liberdade vinda do uso de máscaras. É um conceito incoporado a moda: aplicamos camadas, incorporamos novos seres, manipulamos a superfície para sinalizar profundidades ocultas. Em entrevista para a BBC o percussionista da banda Slipknot, Shawn Crahan, conhecido como ''Clown" conta: "Eu ganhei uma versão dessa máscara aos 14 anos. Foi aquele momento de clareza, decidindo o que eu queria projetar. Estou aprendendo alguma coisa e ainda nem descobri. Essa coisa não tem limites porra". 

Quando o álbum de estreia do Slipknot foi lançado há 20 anos em 1999, ele desencadeou uma estética tão poderosa que ainda ecoa na cultura contemporânea. O visual de macacões vermelhos, iconografia rural e um headwear meio-humano é carregado politicamente e sedutoramente contagiante. Em uma marcha pelo centro de Manhattan em 2002, "Clown" se referiu ao Slipknot como uma "visão", uma premonição do futuro: "Esse é o novo caminho. Olhem um para o outro, qualquer um que não seja o novo caminho pode dar o fora."

Aqui no futuro, A$AP Rocky usa uma máscara inspirada no ex-baterista do Slipknot, Joey Jordison, enquanto toca um par de tambores de aço em sua turnê "Injured Generation". Brockhampton tenta simbolizar um novo clima político reaproveitando os macacões vermelhos da banda para a fábrica de North Hollywood, onde eles trabalham. Ah, e Rihanna também os ama. Mas a influência da banda nem sempre é tão óbvia assim, às vezes ela vem codificada, tanto como um subtexto ou instinto quanto uma tendência. Depois de 1999, se espalhou por Hollywood e pela alta moda, confirmando o que já era de se esperar.

Em 2002, o espírito da coleção de primavera/verão de Raf Simons aderiu a mesma estética, na qual modelos mascarados vestidos em vermelho, branco e preto (as mesmas cores dos trajes do Slipknot) se transforam em telas do tamanho de corpos para slogans como "Ready to Ignite" e "Born too Late".

 

 

 

Em toda a cultura pop como um todo, os rostos estavam cada vez mais sendo obscurecidos. Daft Punk aderiram os seus icônicos capacetes em 2001. Bjork, começou a usar chapéus elaborados feitos pelo artista de bordado James Merry. E os designers holandeses Viktor Horsting e Rolf Snoeren enviaram uma série de máscaras inspiradas na esgrimas para as passarelas do Paris Fashion Week em 2006. Era uma época dramática, onde a segurança e vigilância aumentaram depois do 11 de setembro, inicialmente incentiva pelos estados que citam a defesa conta um inimigo oculto. E mais tarde, pelas empresas do Vale do Silício, que coletavam e vendiam dados privados a anunciantes e governos quando solicitados. Artistas visuais usaram a moda como parte de uma resposta a toda essa espionagem.

Os designs das máscaras do Slipknot nunca foram tão explicitamente atuais. Eles apontam para algo mais pessoal, mais difícil de nomear - algo caseiro. Os pregos, zíperes, alfinetes e pontos que seguram as placas de metal, as ataduras e a gaze juntos canalizam a estranha emoção de um manequim seminu, um ser ambíguo que existe em algum lugar entre a vida e a morte.

Máscaras são um pilar da Moda. Na verdade, era um crucifixo esmaltado preso a uma máscara de olho roxo, que roubou o show na apresentação em 1996 de outuno/inverno de Alexander Mcqueen intitulada "Dante", levando o designer a fama global. Em 2015, após a morte de Mcqueen, Rihanna estampou a capa da revista AnOther usando uma máscara preta de laca em homenagem. Rick Owens produziu uma série de "véus brutalistas" para a sua coleção ready-to-wear . Enquanto Maison Martin Margiela adotou o poder de formação coletiva de encobrir. O próprio Margiela quase nunca é visto em público. Um grupo de modelos ocultos dos anos 2000, com cabelos ou maquiagens, mais tarde se transformou em máscaras de malha cobertas de diamante, várias das quais Kanye usava em sua turnê YEEZUS em 2014. No entanto, para mim, nada supera a coleção de outuno/inverno 2006 de Jun Takahashi para Undercover.

 

Entramos na era das mídias sociais. A experimentação de samples  e gêneros acelerou-se através de plataformas como o SoundCloud, das quais surgiram Lil Peep, Ski Mask the Slump God e XXXTentacion, todos os quais citaram o Slipknot como influência (este último até nomeou uma música para eles). O uso primário de máscaras na cultura contemporânea passou de resistência à vigilância para um projeto interativo de arte digital.

Em uma resenha do mais recente álbum do Slipknot, We Are Not Your Kind, intitulada “How Slipknot 'Revolting', Class Conscious Rage se tornou a trilha tonora terfeita para 2019”, o repórter do Daily Beast, Tarpley Hitt, observa como o álbum volta aos primeiros temas da banda: "Uma consciência tácita da agitação política, uma premonição frustrada do que o futuro pode trazer e uma liberação catártica e revoltante".