Informações revelam que a indústria de shows no Brasil já acumula um prejuízo de mais de R$ 483 milhões devido à pandemia do novo coronavírus. Alguns detalhes foram divulgados nesta semana pelo núcleo de pesquisa DATA SIM, que levantou dados referentes ao impacto econômico provocado pela quarentena entre profissionais da área.
O levantamento feito entre 536 empresas do setor indica adiamento ou cancelamento de 8.141 eventos musicais, que tinham juntos uma projeção de público de 8 milhões de pessoas.
Os números apontam um horizonte de instabilidades. É que a dimensão real do estrago, ponderam os próprios especialistas, não pode ser minuciosamente cravada. Ao levar em conta as apresentações de autônomos — um total de cerca de 62 mil microempreendedores registrados no Ministério da Fazenda como trabalhadores "da música ao vivo" —, o prejuízo estimado passaria a R$ 3 bilhões, lesando cerca de 1 milhão de profissionais.
A pesquisa identificou o baixo índice de participação em associação de classes (77% dos profissionais não participam de entidades coletivas).
"Esses números ajudam a pensar em ações concretas para o setor, composto por muitos interesses, a maioria sem representação ou associação de classe. É hora de pensarmos coletivamente", diz em comunicado, Dani Ribas, diretora de pesquisa do DATA SIM.
Não há espaço para pensarmos que uma única iniciativa vai liderar esse processo de cima pra baixo. É hora de aproveitarmos as iniciativas que surgiram autonomamente em diversas partes do país para repensar toda a organização política do setor”, sugere Ribas.
"Realizar uma pesquisa simultaneamente aos primeiros impactos da crise é uma tarefa árdua. Entretanto, a urgência na coleta destes dados primários se faz necessária por conta das milhares de pessoas desamparadas nesse momento. Nesse sentido os resultados da pesquisa podem ajudar a ampliar o diálogo e proposições do poder público e iniciativa privada", comenta Renata Gomes, pesquisadora e analista de dados do DATA SIM.
O estudo também apresenta um diagnóstico dos principais desafios que a indústria da música precisa enfrentar para lidar com a crise que abala toda a cadeia produtiva do setor, mas também abre possibilidades para que as estruturas e relações do mercado sejam repensadas coletivamente em novos caminhos.
(Foto Getty Images)
Os mais prejudicados pelo cancelamento de shows são fornecedores (30%), freelancers (22,6%), prestadores de serviço terceirizados (18,1%) e colaboradores em Pessoa Jurídica (15,3%), a maioria oriunda do estado de São Paulo (45,5%). Os estados do Rio de Janeiro (11,7%) e de Minas Gerais (9,7%) são os outros mais afetados. De todo o contingente, mais da metade é formada por microempreendedores independentes.
"Vai ser preciso recomeçar, reinventar a música ao vivo", afirma Pena Schmidt consultor especial do projeto.
Com a tendência de o isolamento social persistir durante mais meses, o mercado de discos e shows precisará se reinventar para se manter afinado.
Especialistas sugerem, por exemplo, que as recorrentes transmissões ao vivo de apresentações musicais — via redes sociais como YouTube e Instagram — podem representar uma saída economicamente viável, apesar das dificuldades que se impõem no universo virtual.