Por Rodrigo Dhakor
As imagens de satélite mostram a magnitude dos incêndios ocorridos na Amazônia. Os incêndios aumentaram mais de 80% em relação ao ano passado, com metade deles supostamente iniciados em agosto deste ano. Para muitos, as cenas horríveis podem parecer de um mundo bem distante. Mas embora os fatores que levaram aos incêndios sejam complexos, a indústria de calçados é parcialmente uma responsável pelo evento.
Rachel Cernansky escreveu em uma recente matéria para a Vogue Business, que entre outras razões - a indústria de calçados pode ser uma fonte contribuinte para os incidentes atuais e incêndios florestais catastróficos ocorridos na Amazônia.
Segundo Cernansky, a maior causa de desmatamento na Amazônia é a pecuária, juntamente com indústrias associadas a produção de soja, que é usada como alimento para o gado. À medida que a demanda por carne bovina e couro cresce, os fazendeiros naturalmente queimam florestas para obter espaço e aumentar o número da criação de cabeça de gado.
(Foto El País)
"Essa demanda atingiu particularmente o Brasil", diz Cernansky.
“O país fornece cerca de 22% das exportações de couro do mundo, uma das maiores fontes de couros de animais, segundo uma análise da Federação Nacional da Vida Selvagem dos EUA. E a indústria de calçados é a maior compradora de todo esse couro", afirma a ONU.
Há uma década, o Greenpeace vinculou marcas como Louis Vuitton e Tommy Hilfiger como processadores de couro e compradores vinculados à empresas acusadas de desmatamento. Já nos últimos anos, empresas como LVMH, Kering e Nike se comprometeram a utilizar apenas couro não proveniente de causas de desmatamento. (E na segunda-feira, a LVMH disse que forneceria 10 milhões de euros em ajuda para o combate dos incêndios na Amazônia).
Existem alguns esforços para criar maior rastreabilidade e sustentabilidade na cadeia de suprimentos , mas eles ainda precisam atingir uma escala significativa. (Alguns ambientalistas questionam se é possível suprir a crescente demanda global por couros de animais de maneira ecológica).
O gado pode ser transferido sempre que possível de modo a evitar um monitoramento "anti desmatamento". Muitos ainda pensam que compram "couro italiano", significa que não se diz respeito ao Brasil, diz Nathalie Walker, diretora de florestas tropicais e agricultura da NWF. Na realidade, a indústria italiana de couro é fortemente proveniente dos recursos brasileiros.
O caminho a seguir, diz Cernansky, é aumentar a transparência e rastrear melhor a origem do couro. Muitos serviços, como o Trase da Globaly Canopy, ou ferramentas como o Responsible Leather Assessment da Textile Exchange, estão surgindo na esperança de fornecer uma abordagem melhor de onde e como o couro está sendo adquirido, garantindo que nada esteja contribuindo para o desmatamento.
A indústria da moda está tentando se afastar de fontes de couro anti-éticas, e mais organizações estão tentando implementar medidas de maior transparência, mas “o que é necessário é a clara demanda do mercado e os bancos de dados do governo para permitir o acesso a dados que podem facilitar esse trabalho a baixo custo ”, diz Walker. "Resolver esta crise exigiria a cooperação de todos".