Mercado indiano pode ser o próximo grande expoente no segmento dos sneakers

Mercado indiano pode ser o próximo grande expoente no segmento dos sneakers

Por Rodrigo Dhakor

Na Índia, o primeiro Yeezy chegou em agosto de 2015, na cidade de Mumbai. O tradicional Air Max Day foi lançado por lá pela primeira vez no mesmo ano, tornando-se o primeiro evento da história sobre sneakers no país.

Até então, o sneakerhead indiano tinha que se contentar com o que chegava ao mercado nacional perante os lançamentos GR (general release), mas tudo mudou quando a chegada de modelos cobiçados como o Air Jordan 1 Bred e do Yeezy Boost 350 permitiu que um mercado de revenda aparecesse em meados de 2016, mesmo em um "sistema" dependente da negociação boca-a-boca.

"Existem dois tipos de sneakerheads na Índia", diz Jonathan Rego, editor e fundador da Nation of Sport . "Um é do tipo que realmente se importa com o jogo da negociação e outro que só se preocupa com tênis como moda passageira. E a cultura na Índia crescerá das duas maneiras".

Com uma população em torno de 1,3 bilhão, o poder de compra e venda do país não deve ser mais subestimado. Em discussões globais sobre moda e tênis, a Índia não é exatamente vista ainda como um grande centro negociador. No entanto, a mudança da dinâmica política, a exposição mais disseminada às novas tendências graças às mídias sociais e o aumento da renda disponível em todo o país significa que os consumidores indianos estão mais conectados à moda e ao calçado do que nunca.

Consequentemente, à medida que a aceitação da indústria de tênis se torna mais difundida, a comunidade de moda indiana - tanto consumidores, negociantes quanto os criativos de marcas - podem legitimamente se tornarem autoridades em nível global.

"As pessoas [na Índia] agora possuem um gosto universal”, diz Anand Ahuja, fundador da loja de tênis multimarcas Veg Non Veg"Existe pouca diferença entre os clientes de Nova Déli e Nova York, porque o indiano agora deseja o que todas as pessoas ao redor do mundo querem".

 (Fotos Vishal Dey)

O “imenso potencial” da Índia tem sido apontado por economistas há algum tempo. Por mais que a população em geral tenha a tradição de fazer compras somente três vezes por ano (para aniversários, Ano Novo e feriados religioso), uma fatia dos indianos passaram a fazer compras pelo menos 12 vezes por ano em média. E com uma população imensa, mesmo os pequenos aumentos de compras em nível individual significam muito mais consumismo em todo o país.

O setor varejista responde por mais de 10% do PIB do país e oferece cerca de 8% das oportunidades de emprego. De acordo com os estudos da India Brand Equity Foundation , o país tem o quinto maior setor de varejo do mundo. À medida que a riqueza dos indianos cresce, aqueles que têm as melhores condições desembolsam parte de sua renda em função de tênis e vestuário. “Os indianos são uns dos maiores consumidores de moda e vestuário. Depois da casa e da comida, a moda é a terceira maior categoria para os gastos indianos ”, diz Ahuja.

Além de gastar mais dinheiro, os indianos, como no resto do mundo, gastam mais tempo conectados e isso significa mais compras on-line. Cerca de 60% da Índia urbana adotou smartphones, tornando acessível um mercado novo para 450 milhões de usuários. Aproximadamente 55 milhões de indianos fazem compras via internet,  quase 90% deles têm entre 18 e 35 anos, de acordo com o Motilal Oswal (plataforma que gerencia negociações financeiras e ações online indiana), que estima que as vendas indianas em e-commerce atinjam US $ 120 bilhões até o ano 2020.

Os indianos podem ter mais acesso às compras do que nunca, mas comprar os lançamentos no país ainda é muito difícil devido à falta de disponibilidade e preços bem mais altos. Modelos da Adidas como o NMD, UltraBoost e Yeezy são calçados com valores 33% mais altos em comparação com os do mercados americano e europeu por causa dos direitos de importação. Os Yeezys são vendidos por cerca de US $ 200,00 nos Estados Unidos e na Europa. Já os indianos pagam de US $ 325,00 a US $ 375,00 pela silhueta no país devido a impostos de importação.

(Fotos Vishal Dey)

Algumas pessoas acreditam que na Índia exista uma verdadeira comunidade sneakerhead, mas que está ainda simplesmente vivendo e seguindo uma tendência global. "Acredito que essa comunidade continuará pequena e estreita pelos próximos cinco a seis anos. E ainda acredito que a cultura de tênis na Índia seja hoje baseada apenas no hype, do que no conhecimento.", diz Jerry Sebastian, ex-gerente de marketing da Adidas Originals India.

Na visão dos sneakerheads indianos, existe uma lacuna gritante em tudo relacionado a tênis no país. Já é realidade eventos específicos, mas a cultura precisa se mobilizar, apropriar-se bem mais das oportunidades para que as coisas aconteçam e desenvolvam, pois o mercado de calçados na Índia ainda é um expoente desorientado.

Desde o primeiro Air Max Day feito na Índia em 2015, a Adidas organizou eventos de lançamento como Yeezy drop after parties. A cidade de Mumbai foi um dos locais da Global Flagship da Adidas Originals. A Reebok fez um evento de lançamento do modelo Aztrek em dezembro de 2018 na loja Veg Non Veg. Mas eventos como esses ainda são limitados e atendem a uma marca, coleção ou lançamento específicos, em vez de promover um "material" mais amplo para a comunidade. De olho na Índia como um possível novo expoente, os grandes eventos relacionados e de escala mundial como Sneakerness e SneakerCon observaram que o mapa indiano é viável e preparam algo para essa fatia em breve, combinando o universo do tênis com marcas do streetwear nacional e internacional. 

Tudo que se sabe é que a falta de opções de compras e as oportunidades traçadas ao indiano pode ser considerada como uma das maiores desvantagens existentes para o consumidor, mas uma das maiores oportunidades para o empreendedor. Não existem lojas voltadas apenas ao tênis em todo o país e em centros culturais como Mumbai, muito menos lojas específicas de streetwear.

No entanto, acreditasse que a Índia nos próximos anos cresça realmente a ponto de ser um expoente dedicado aos sneakerheads e assim como cresce exorbitantemente na indústria tecnológica, o mercado internacional de calçados poderá ser uma das áreas de afirmação do país no panorama mundial. 

Por fim, além de tudo que foi citado, se você pensa em expandir seus negócios para a Índia, é importante saber em termos de mercado (segundo relatórios do BRICS), que existe ali uma taxa de crescimento econômico que, em termos médios anuais, deverá se situar em torno dos 6 a 8% nos próximos anos e não há dúvidas sobre a relevância da Índia no contexto mundial, apesar da diminuição dos picos de 8% a 9% de crescimento que ocorreram nos anos anteriores e que as exportações mantiveram-se, apesar de repercussões sobre o emprego e os gastos dos consumidores.

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