Por Rodrigo Dhakor
Uma linha existente entre o movimento cultural e os artigos comerciais ligados à moda sempre mostrou grande intimidade entre às duas vertentes. Não é de hoje que figuras da música e personagens ligados a cultura hip-hop se manifestam em seus vestuários, disseminando estilos que se tornam símbolos de gerações.
A tal maneira de retratação de uma realidade excludente e sublime refletiu fortemente em uma geração que influenciou muito o lifestyle dos Estados Unidos, alcançando seu auge nos anos 80 e perdurando até os dias de hoje.
Com influências que datam de meados dos anos 60, a origem do hip-hop é ainda muito discutida. Sabe-se que afro-americanos, latinos e jamaicanos periferizados ao sul do Bronx, em Nova York, começaram a relatar suas vidas e seus problemas sociais, como o preconceito racial e a desigualdade de direitos, em forma de música, dança, grafite, literatura e moda.
Uma grande disseminação de tudo, aconteceu quando grandes empresas perceberam o potencial milionário que o "get down" oferecia na época. Marcas como Adidas, Nike, Puma e Converse começaram a vestir dos pés a cabeça, b-boys, mcs, deejays e artistas em geral, que eram ícones para jovens e adultos. Iniciando assim, a relação entre o tênis e o hip-hop.
A cultura sneakerhead nascia nos anos 80 por meio da conexão entre o hip-hop e o basquetebol. A presença agora de atletas negros na principal liga de basquete americana alavancava o sucesso dos tênis de práticas esportivas pelas ruas. Um explosão de estilos nos principais bairros negros da cidade de Nova York e Nova Jersey proporcionou uma grande variedade de modelos de sneakers, tornando os objetos de desejo e status.
Em 1982, foi lançado o Air Force 1, um calçado que foi uma revolução dentro das quadras de basquete. O tênis apresentava um revolucionário sistema de amortecimento à base de ar na midsole e uma tira de velcro no cabedal, o que fez com que muitos jogadores da NBA dos anos 90 o adotassem para aspartidas, como Magic Johnson, Hakeen Olajuwon, Moses Malone, Karl Malone e Michael Jordan, que teria sua própria linha anos depois.
(Fotos Nike)
O Nike Air Force 1, apelidado de "Uptowns", rapidamente saiu das quadras, tornando-se um artigo obrigatório no Harlem, e aparecendo na capa de trabalhos musicais como "It Takes Two" do duo nova iorquino Rob Base e DJ EZ Rock. O legado do Air Force 1 continuou a ser referenciado no hip hop quando Jay Z "cuspiu" suas rimas em ''Can I live II'' e Nelly cantando "Air Force Ones".
Foi em 1986, que o "boom" da cultura sneakerhead se deu por conta do lançamento da música "My Adidas" do grupo Run-DMC.
O grupo lançou uma resposta ao single de Dr. Deas "Felon Sneakers" que criticava o modelo Adidas Supertar, comparando o com calçados de prisioneiros, por não possuir cadarços.
(Foto Janette Beckman)
Aparecendo como faixa de abertura do álbum Raising Hell, do RUN-DMC, o executivo da Adidas, Angelo Anastasio, devido ao estrondoso sucesso da faixa, ofereceu um contrato de US $ 1 milhão depois de ver a banda se apresentar no Madison Square Garden, onde a platéia colocou seus Adidas Superstar no ar e cantou todas as linhas da lendária letra:
My Adidas Walk through concert doors / And roam all over coliseum floors / I stepped on stage, at Live Aid / All the people gave an applause that paid / And out of speakers I did speak / I wore my sneakers but I'm not a sneak ...
(Foto David Corio)
Em 16 de outubro de 1968, Tommie Smith se tornou o primeiro corredor a quebrar a barreira de 20 segundos no sprint de 200 metros, o corredor nascido no Texas cruzou a linha em 19,8 segundos. De pé no pódio para receber sua medalha, Tommie Smith levantou seu Puma Suede e de punhos cerrados com luvas pretas, junto a John Carlos em plena Olimpíada fazia a saudação ligada ao movimento Black Power.
(Foto Getty Images)
O momento ficou completamente enraizado na silhueta Puma Suede. Mais tarde entre as décadas de 70 e 80 no Bronx, com a cena de breakdancing em crescimento, o tênis com durabilidade de camurça ostentava as profundas raízes de direitos civis. Suas solas de borracha grossa e seu cabedal maleável rapidamente tomaram uma grande fatia de uma das vertentes do hip-hop.
Entre esses principais silhuetas, toda uma diversidade delas fizeram história em toda a América na década de 1980. Reebok e Converse estavam presentes na Costa Oeste, o NWA vestia seus Chuck 70 pretos, os modelos Air Jordan 2 e Air Jordan 3 agraciavam as capas de discos do Heavy D & The Boyz, Three Times Dope e The Boys e Kid Play 2. Lançamentos ainda mais obscuros como Nike O Court Force eram vistos na capa de Lyte's Rock, do MC Lyte, e o Ewing 33 Hi e o K-Swiss Tennis Classic eram outros ícones nas ruas.
E aí, faltou salientar alguma? Creio que várias.