A performance na arte é um tipo de segmento artístico que mistura elementos diferentes de arte. Ou seja, pode acontecer por meio de diversos diálogos, combinando dança, teatro, artes visuais e música.
Nesse contexto, as abordagens podem ser diversificadas. Em uma delas, conhecida como happening, o público é peça-chave do espetáculo, pois participa dele. Já a performance em si não conta com a participação da plateia.
Essa manifestação artística apresenta uma forte carga conceitual e subjetiva. Afinal, ela é realizada com um público restrito sendo que, algumas vezes, os espectadores nem precisam existir. Logo, demanda registros, por meio de vídeos e fotografias.
De certa medida, a arte tenta criar ordem a partir do caos, ou mudar por completo o status quo. Nesse contexto, há quem fique revoltado com manifestações diferentes das que estamos tradicionalmente acostumados.
Assim como ver como a Arte de Performance causa muitas sensações. No começo, não sabemos o que pensar. Emitimos críticas imediatas e, depois, com calma, revemos a impressão que temos.
A Tate Modern, um museu britânico de arte moderna, é um bom exemplo desse movimento pelo novo e de como o museu do século XXI está evoluindo para um local de encontro, entrando em um novo cenário contemporâneo. Iniciou há alguns anos um movimento para incentivar a Arte de Performance e para trazer novas manifestações e tornar seu espaço um local público. E um dos maiores ícones de Arte de Performance que apareceu por lá foi "Good Feelings in Good Times" (2007).
(Foto Getty Images)
Trata-se de uma obra incomum, criada a partir de uma folha de papel e que instrui as pessoas a criarem uma fila artificial. "Good Feelings in Good Times" (algo como "Bons Sentimentos em Bons Momentos") é também uma performance.
A princípio, ela deve ser realizada dentro de um museu, mas também pode acontecer em outros lugares, como calçadas e espaços públicos. A fila deve estar sempre associada a uma exposição de arte e é formada em frente a um local que faça sentido, geralmente uma porta trancada ou uma passagem bloqueada.
Em espaços internos ela pode ser realizada com um mínimo de 7 e um máximo de 12 pessoas. Em espaços externos, com um máximo de 15 pessoas.Criada pelo artista conceitual Roman Ondák (nascido em 1966) é simples e direto como o diz o seu verbete na Wikipedia, que o descreve em apenas uma linha. Depois de 40 minutos, a fila acaba e uma nova pode ser formada.
(Foto Tate)
Os participantes de "Good Feelings in Good Times" são sempre voluntários ou atores contratados pelo museu, sem restrições de idade ou de gênero. Eles não precisam usar roupas especiais, basta parecerem pessoas comuns que estão esperando alguma coisa acontecer quando a fila andar. Só que ela não vai andar.
Se perguntados pelos observadores, esses atores não devem dar nenhuma informação. A performance é repetida várias vezes ao dia em horários e locais específicos do espaço expositivo.
Genial ver que o romeno não só vendeu a instalação para a Tate, como antes disso tinha apresentado a mesma obra em Colônia (Alemanha). O artista argumentou que a fila da Tate de Londres seria diferente, pois, embora fosse uma atividade social comum, também é histórica, cultural e, em última análise, comportamental, conforme sua localidade.
Ele também indicou que sua obra explorava a flutuação do tempo, sentimentos, desejos e a decisão de cada um estar – ou não –em uma fila. Para ele, a ideia de tempo muda: tempo pessoal (tempo real) e tempo social (tempo gasto na fila), tempo passado (memórias na fila), tempo presente (fila real), tempo da experiência vivida (estar na fila) e tempo da experiência imaginada (imaginar os efeitos das filas).
Os críticos, a imprensa ou os 5 milhões de visitantes ao ano que a Tate recebe em suas instalações não tiveram coragem de criticar a obra porque talvez entendam que hoje as narrativas vão além das fronteiras tradicionais com o objetivo de atingir novos limites artísticos. Esse movimento deve ajudar a Arte de Performance a ganhar cada vez mais espaço para definitivamente se institucionalizar na sociedade.
A Tate, que já faz apresentações desde o final da década de 60, detectou o aumento desse anseio há alguns anos. Respondeu rapidamente criando um time de estudos para o tema e continua estudando como a arte irá caminhar nos próximos anos. Sua meta é estar sempre na vanguarda, também nessa área, provando que a arte contemporânea não é uma piada, mas algo que pode se tornar respeitado e reverenciado em todo o mundo.
(Foto Tate)
A Tate Modern tem trabalhado para impressionar o público e influenciar a sociedade. Fez a controversa apresentação de Richard Long ao lado de Monet, misturou Henri Matisse com os desenhos de Marlene Dumas ("To Show or not to Show").
O MoMA de Nova, o Centro Pompidou, junto com centenas de museus e galerias de arte também reagiram exposições até então inimagináveis, como uma grande apresentação de obras inacabadas de artistas famosos. Colocaram artistas para falarem, ao invés de deixarem os curadores à frente das narrativas das obras.
Sem dúvida, a mudança de paradigma será ainda maior após a pandemia. Teremos um mundo mais aberto para a diversidade e para diferentes modelos de arte. O desafio para os próximos anos será descobrir quais serão as novas formas de expressão que irão impressionar e ganhar nossos suspiros no mundo da arte.