A corrida de rua é um das modalidades que mais têm conquistado adeptos em todo o país. O esporte traz diversos benefícios, como melhora do sistema cardiorrespiratório, oxigenação do sangue e também ajuda no processo de emagrecimento.
No ano passado, os clubes de corrida registraram um crescimento de 109%. Isso representa quase o dobro da média global (59%), conforme aponta o Relatório Anual sobre Tendências de Esportes do Strava.
A pesquisa também mostrou que a modalidade foi a mais praticada no mundo todo no último ano, o que evidenciou que para uma quantidade significativa de pessoas, a corrida de rua vai além do cuidado com o corpo: é também uma forma de criar laços e conexões, sentir-se parte de uma comunidade e promover mudanças positivas.
A crescente adesão da corrida de rua tem impulsionado novas formas de vivenciar o esporte. Com isso, movimentos coletivos ganham força com o propósito de transformar quilômetros percorridos em exemplos de convivências e interações, mostrando que a prática vai mais além da linha de chegada.
(Foto: @stab.rc)
A STAB Running Club nasceu como uma alternativa para aqueles que, na rotina acelerada das grandes cidades, sentem falta de conexões mais profundas. A proposta foi criar uma plataforma criativa de corrida, onde a prática de atividades físicas não fosse apenas uma questão de desempenho pessoal, mas também uma ferramenta para estreitar laços, promover encontros e tornar a cidade um lugar mais acolhedor.
Com um lema inspirador, “Se você não for, só você não vai”, o clube tem como objetivo envolver todos, independentemente do nível de habilidade na corrida, a participarem e desfrutarem dos benefícios do exercício físico e das relações humanas. A primeira corrida organizada pela Stab aconteceu em 26 de março de 2024, com apenas dez participantes, sendo quatro dos fundadores. Desde então, o clube tem atraído cada vez mais adeptos, consolidando-se como um importante ponto de encontro na cidade de Santo André.
Nossa redação conversou com Victor Rego, Leandro Belini, Henrique Vecchi e Felipe Bataline - idealizadores do STAB Running Club, para saber como sentem e vivem a corrida.
(Henrique Vecchi, Leandro Belini, Felipe Bataline e Victor Rego - Foto: @stab.rc)
Confira:
De onde surgiu a vontade de correr e como você começou? (Victor Rego)
Sempre pratiquei esportes, mas o o primeiro contato com a corrida veio quando estava desempregado e queria sair de casa. Precisava me movimentar, me sentir bem naquele momento. Como a corrida é um esporte que depende apenas de mim e da minha vontade, a pratica dela acabou sendo algo natural.
Qual o seu propósito na corrida atualmente? Porque você corre? (Leandro Belini)
Correr, para mim, vai muito além da saúde física. É sobre conexão com pessoas, com o ambiente ao meu redor e, acima de tudo, comigo mesmo. É uma busca por equilíbrio, um momento para respirar, refletir e liberar o peso do dia a dia. O esporte me permite construir uma vida mais saudável, não apenas no corpo, mas também na mente, trazendo mais leveza e bem-estar pra rotina intensa de trabalho.
Porque corre em grupo ao invés de sozinho? (Henrique Vecchi)
Correr em grupo muitas vezes não é apenas sobre corrida. Existe muito apoio e senso de comunidade. Acredito que seja muito mais fácil manter a disciplina e o compromisso quando se corre em grupo.
Os clubes de corrida cresceram 109% no Brasil, em 2024, segundo relatório do Strava, qual sua opinião sobre esse crescimento? (Victor Rego)
É um reflexo de uma mudança de comportamento, principalmente pós-pandemia. Relacionado a saúde física e mental, bem estar e relações interpessoais. Percebemos a necessidade de se movimentar e estar em contato com outras pessoas, e só tivemos real noção disso quando fomos privados.
(Foto: @stab.rc)
Qual o principal papel dos running clubs na sua opinião? (Felipe Bataline)
Apresentar e introduzir as pessoas ao universo da corrida. Promover atividades físicas e hábitos saudáveis como instrumentos de inclusão, integração, diversidade e transformação individual e coletiva. Além de perceber, habitar e pertencer aos espaços por onde passamos.
Porque você acha que as pessoas frequentam running clubs? (Felipe Bataline)
Justamente por serem acolhidas e se sentirem parte. Para lidar com a desconexão das relações humanas e o isolamento cada vez mais imposto pela vida nas grandes cidades, frequentar Running Clubs resgata os vínculos reais . Todo mundo quer ser parte de algo. E esse sentimento é muito genuíno para quem corre de galera.
Strava, Garmin e outras tecnologias não apenas permitem que corredores acompanhem seus desempenhos, mas também incentivam a criação de comunidades. Como o seu running club se beneficia dessa interatividade? (Henrique Vecchi)
Nunca parei pra pensar sobre, mas permitir que nossos membros compartilhem suas corridas e treinos, acaba fortalecendo nossa comunidade e cria um ambiente de competição saudável, além de facilitar o planejamento e organização de nossos eventos.
Apesar do crescimento, os clubes de corrida também enfrentam desafios que precisam ser superados para manter sua relevância e continuidade. Quais são suas maiores dificuldades? (Felipe Bataline)
Acredito que a falta de apoio e a desvalorização acabam dificultando muito o desenvolvimento das comunidades. Algumas cresceram tanto que precisam envolver os órgãos públicos para ajudar com a mobilidade e segurança dos corredores.
Para manter relevância e continuidade, na maioria das vezes, é necessário recurso. E como conseguir recurso de um movimento que é 100% gratuito? Muitos vão responder: “Já pensaram em ir atrás de alguma marca?”
Aí que entra outro desafio. Vemos um movimento grande e intenso das marcas tentando se associarem a algum RC de relevância. Mas será que estão genuinamente dispostas a pagar um valor que seja justo?
Investem milhões em suas comunicações, produtos e campanhas. E para nós, sobra apenas uma margem quase nula e totalmente impraticável.
Por isso é muito importante que os Runnings Clubs se unam, se organizem e conversem sobre todos esses interesses. Nós que temos que colocar preço em nosso trabalho, não o contrário. Pois nós que detemos o que eles mais tem dificuldade em construir e estão sedentos: comunidade.
(Foto: @wesleybarbosa.jpg)
Qual sua perspectiva de futuro para os cubes de corrida no Brasil? (Leandro Belini)
Enxergo um crescimento ainda maior para os grupos de corrida no Brasil. Já estabelecidos como uma forte tendência de saúde e bem-estar, os running clubs têm sido cada vez mais valorizados pelas pessoas que buscam conexão, equilíbrio e qualidade de vida através do esporte. No entanto, muitas marcas vêm explorando esses clubes como uma maneira barata de alcançar comunidades com as quais, de outra forma, teriam dificuldade de se conectar.
No futuro, acredito que essa prática será ainda mais comum, tornando os clubes como diferenciais na comunicação e no marketing esportivo. O que mais espero é que esses grupos reconheçam o verdadeiro valor do trabalho que realizam e não se deixem reduzir a meros veículos de capex baixo. Enquanto as grandes marcas investem milhões em campanhas digitais, esses clubes estão na linha de frente, construindo relações genuínas e promovendo um impacto real na vida das pessoas. É essencial que seu papel seja valorizado e remunerado devidamente e que seu crescimento seja pautado na autenticidade, no engajamento e na força da comunidade.
Se você pudesse recomendar QUALQUER conselho (item, dica, etc.) relacionado à corrida para um novo corredor(a), o que (qual) seria? (Leandro Belini)
Para quem está começando a correr, o mais importante é aproveitar e curtir a experiência. Não precisa ter pressa nem de se sentir pressionado por desempenho, cada corredor tem seu próprio ritmo e estilo, e ninguém é obrigado a correr rápido ou devagar. O essencial é respeitar o próprio corpo: se houver dor ou desconforto, é fundamental parar e buscar orientação profissional, seja com um médico, treinador ou nutricionista, principalmente se a corrida for algo que deseja levar mais a sério. O foco deve estar no bem-estar, na evolução gradual e no prazer de se movimentar.