Bicicletas em alta: a ascensão do ciclismo

Bicicletas em alta: a ascensão do ciclismo

Faz bem para saúde, ajuda o meio ambiente e diminui o trânsito nas grandes cidades. Com tantas qualidades, não é difícil entender porque as bicicletas têm conquistado cada vez mais adeptos. No Brasil, a cada três habitantes, um tem uma bicicleta.

Atualmente o ciclismo é um dos esportes que mais cresce no Brasil, atraindo a cada dia que passa mais entusiastas. Isso inclui ciclistas em diversas modalidades e estilos, sejam atletas profissionais e amadores. As modalidades mais conhecidas são ciclismo de estrada, mountain bike, que se divide em quatro estilos, e bicicross (corridas e manobras).

A pandemia do novo coronavírus tem movimentado o setor das bicicletarias em todo o país. Pelas vias é visível observar o aumento de praticantes. Na verdade, não precisa sair de casa para perceber a onda do pedal nesse período, já que as redes sociais estão cheias de cliques dos passeios ou de paisagens das ruas e estradas utilizadas como rotas pelos ciclistas. Nas lojas do setor, o movimento também é intenso.

Um levantamento realizado pela Aliança Bike (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas) aponta que entre Maio e Junho houve aumento médio de 50% no número de vendas em relação ao ano passado no país.

No mês passado, o crescimento chegou a 118% em comparação a Julho de 2019. A pesquisa, divulgada há exatamente um mês, foi feita com mais de 40 empresas associadas à entidade.

Mesmo sendo um esporte de alta performance, o ciclismo cresce mundialmente devido sua versatilidade, já que essa atividade é indicada para todas as pessoas que tenham condições físicas e motoras para pedalar.

(Foto Getty Images)

Com o passar do tempo, a tecnologia das bicicletas vêm aumentando. Algumas chegam a custar o preço de um carro popular. A infraestrutura, porém, não acompanha. Porque pedalar nas grandes cidades é tão arriscado? Pela lei, bicicleta é meio de transporte e o ciclista deve andar pela rua. O motorista é obrigado a respeitar a distância lateral mínima de 1,5 metros na hora de ultrapassar uma bike.

Comemorado em 19 de Agosto, o Dia do Ciclista celebrou os benefícios proporcionados por um dos esportes mais praticados do mundo, mas também alertou para os cuidados necessários e também a carência de espaços para a trafegabilidade deste veículo no Brasil.

Pedalar no Brasil é difícil. O desafio não está somente no condicionamento e destreza que a bicicleta exige. A complexidade mora no pouco investimento e manutenção de ciclovias. A falta de segurança é outro motivo de desistência para aqueles que, por lazer ou necessidade, escolhem a famosa "magrela' como meio de transporte.

O comprometimento do poder público em dar as mínimas condições para que o ciclismo evolua ainda mais é ínfimo. Dados do IBGE coletados ano passado são a prova disso. Apenas 14 em cada 100 municípios no país possuem ciclovias. A parcela de cidades que oferecem bicicletários públicos é mais insignificante: cinco em cada 100.

Em território nacional, São Paulo (capital) ainda desponta como referência no incentivo do uso de bicicletas. Calcula-se que os paulistanos têm à disposição 498,3 quilômetros de malha cicloviária, a mais extensa entre as outras 25 capitais e o Distrito Federal. É pouco se comparado aos 35 mil quilômetros de malha viária pavimentada na cidade.

(Foto Reprodução)

Voltando a realidade do crescimento em vendas, os números nacionais também refletem a realidade regional. Os empresários Carine Lopes Elias e Márcio Fernando Elias, proprietários de uma bicicletaria, relatam aumento de cerca de 80% nas vendas durante a pandemia. Já Adilson Vagner Delai, gerente de uma loja do setor, demonstra em números o acréscimo: em Julho do ano passado foram vendidas 33 bicicletas e, neste ano, saltou para 93 no último mês.

"Nesta época do ano não é costume ter movimento no ciclismo. O giro das empresas neste período é baixo. Época em que o pessoal dá uma desanimada em pedalar, tem o frio intenso também, o entardecer está mais gelado, ventando, então existem diversos fatores que contribuem tradicionalmente para diminuição das vendas de bicicletas e serviços. Este aumento é algo que nunca ocorreu neste período do ano", disse Carine.

Atuando há 30 anos no segmento, Delai também se demonstra surpreso com o crescimento da demanda nos últimos meses. "Nos primeiros dias da pandemia liberamos os funcionários, com o fechamento do comércio, e não houve grandes movimentos. Porém, ainda no fim desta primeira semana começou a crescer os serviços de manutenção, a procura por bicicletas, e chamamos de volta os funcionários para o atendimento delivery. E, desde então, o crescimento só foi se acentuando. Em 30 anos no ramo nunca vi um período com procura tão grande", destaca.

Ele ressalta ainda que cerca de 70% dos serviços é realizado pelo sistema delivery, a empresa busca e leva a bicicleta. "Já operávamos neste modo antes da pandemia, e hoje representa maior parte do serviço realizado".

A pesquisa divulgada apontou também o perfil de consumo. Destaque para os modelos chamados de "bicicletas de entrada", com valores para o consumidor final entre R$ 800,00 e R$ 2.000,00. Estas bicicletas são utilizadas normalmente para transporte, lazer e exercícios físicos de baixo impacto.

"As bicicletas que os consumidores procuram são os modelos mais em conta, para quem está iniciando. E nem sempre é o modelo ideal para quem deseja realizar atividade física. É um pouco complicado explicar para as pessoas que se deve comprar uma bicicleta ideal para cada tipo de esporte, e nem todos os estilos disponíveis na internet servem para determinado tipo de atividade. Para uma velocidade elevada, precisa ser uma bicicleta com bons freios, ter uma suspensão adequada, componentes que garantem segurança e tranquilidade. E, muitas vezes, as bicicletas baratas têm estes componentes com menor resistência. Por isso indico procurar uma loja, um amigo que entenda o tipo de produto adequado para cada perfil", esclarece Carine.

Vagner destacou ainda a procura diversificada de bicicletas, incluindo as infantis. Além disso, ele pontua a falta de reposição de produtos. "Não estamos só vendendo, estamos fazendo muita manutenção também. Mas falta muita coisa no mercado, tanto bikes, quanto produtos, acessórios, como capacetes e faróis", explica.

Além do crescimento da demanda e, tradicionalmente produção menor devido giro pequeno neste período no ano – conforme já colocado por Carine –, o mercado internacional também tem contribuído para a falta de produtos. "Até produtos importados não são mais encontrados. O mercado deve se normalizar apenas em 2021", disse Delai.

(Foto Aliança Bike)

No momento, enquanto nos grandes centros urbanos o aumento ocorreu especialmente porque a população procura por soluções para evitar as aglomerações do transporte público, no interior, como em microrregião, o crescimento foi estimulado pelo fechamento das academias.

Os novos praticantes encontraram na bicicleta uma forma de continuar a rotina de exercícios e, ao mesmo tempo, aproveitar os benefícios da prática, como o desenvolvimento do bem-estar, pois a bicicleta mantém um ritmo de atividade física para manter a saúde.