Dependência da tecnologia durante pandemia se torna pandemia paralela

Dependência da tecnologia durante pandemia se torna pandemia paralela

Temos visto uma piora acentuada na pandemia em nosso país, alcançamos recordes aterrorizantes e, mesmo exaustos, temos que adotar medidas ainda mais restritivas, mas que são absolutamente necessárias diante do desafio fundamental que é salvar vidas. 

Em virtude de tudo isso, um fenômeno que já se presencia desde o ano passado volta a acontecer: estamos cada vez mais expostos e dependentes das tecnologias e da internet.

É difícil ser diferente, afinal, parte das crianças e adolescentes seguem tendo aulas online e, aqueles que podem, adotaram o home office como modelo de trabalho. Nesse ritmo, seguiremos como a nação que mais utiliza a internet, como já apontou o estudo realizado pelo BrazilLAB: brasileiros passam, em média, nove horas por dia na rede.

Especialistas estudam o grupo dos que intensificaram o uso e a dependência em relação às tecnologias, e salientam que o celular acompanha todos a todo o momento do dia e em grande maioria das minhas atividades —de compras no supermercado até videoconferência para o trabalho e também para consultas médicas e ligações para amenizar a saudade da família.

(Foto: Getty Images)

Essa dependência contemporânea das tecnologias não é coincidência, mas sim algo intencionalmente pensado pelas empresas que as desenvolveram. Cada aspecto de uma solução tecnológica, em especial as redes sociais, foi desenhado para cativar usuários, distrair e fazer com que as pessoas estabeleçam uma relação nem sempre saudável com essas soluções.

Há diversos estudos que apontam como os "likes" que recebemos em nossas redes sociais geram sensações muito reais em nossos corpos, como o aumento da dopamina, um conhecido neurotransmissor relacionado às sensações de bem-estar e recompensa. 

E, considerados todos os aspectos positivos e divertidos das redes sociais, é também por meio delas que fenômenos altamente prejudiciais se proliferam: como as fake news e as redes de ódio, como bem exemplifica o filme polonês de mesmo nome que está disponível na Netflix.

Por todos esses motivos, é preciso cada vez mais reconhecer que a saúde mental de nossa geração depende fundamentalmente de nossa relação com o uso das tecnologias, da internet e das redes sociais.

(Foto: Getty Images)

E quando analisado o contexto brasileiro, essa preocupação se torna ainda mais fundamental. Segundo dados da OMS, o Brasil tem a maior taxa de pessoas com depressão da América Latina, são 5,8% da população, o que equivale a 12 milhões de pessoas. Isso sem mencionar o transtorno de ansiedade: 9,3% da população sofre com esse mal, o que nos coloca como o país mais ansioso do mundo.

E o que já era grave tornou-se ainda pior. Segundo uma pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) que teve a participação de 1.460 pessoas em 23 estados e todas as regiões do país, os casos de depressão praticamente dobraram e as ocorrências de ansiedade e estresse tiveram um aumento estarrecedor de 80% durante a pandemia.

Os dados levam a crer que vivemos, também, uma pandemia de males relacionados à saúde mental.

Cuidar da saúde mental e dos males que a afligem é um direito humano fundamental. Empresas, governos e a sociedade em geral devem adotar o tema como uma prioridade.

Além disso, essas doenças comprometem as chances de desenvolvimento pleno das pessoas e também de toda uma economia. Os transtornos relacionados à saúde mental já são uma das principais causas de faltas no trabalho, baixa produtividade e aumento nos custos com saúde, segundo estudo da consultoria Mckinsey.

Perdem as pessoas que sofrem, mas perdemos também todos nós.

Atente-se!