O mundo não será o mesmo pós pandemia do coronavírus e a corrida pela adoção de novas tecnologias se intensificará à medida que as mortes pelo mundo atingem novos picos.
Veremos no futuro breve a adaptação de antigas câmeras de segurança para medição de distância entre funcionários, e até a substituição de inteiros sistemas de identificação por digital por tecnologias de reconhecimento facial.
Entre as empresas que já investiram em tecnologias sem toque no Brasil estão a Petrobrás e a Vale. A mineradora adquiriu câmeras térmicas capazes de identificar, em um grupo de trabalhadores iniciando um turno em uma mina, um indivíduo com febre, e a companhia analisa seus processos para evitar que superfícies sejam tocada por um grande número de pessoas.
(Foto Reuters)
A empresa japonesa de tecnologia NEC já adota, em sua sede, em São Paulo, sistema de identificação facial em que trabalhadores e visitantes são identificados por uma câmera, que libera o acesso ao prédio, sem necessidade de encostar o crachá e a mão numa superfície de uso coletivo.
A SegurPro oferece uma portaria virtual em que a pessoa se coloca diante de uma tela e apenas mostra o documento a um porteiro que trabalha remotamente
Redes de supermercados começaram a substituir botões por tecnologias de aproximação, que excluem o toque. É um exemplo de escolhas tecnológicas – às vezes, simples e baratas, outras caras e complexas – que as empresas terão de fazer a partir de agora.
"A corrida pela adoção de novas tecnologias se intensificará à medida que as mortes pelo coronavírus no Brasil atingirem novos picos", diz Heitor Salvador, presidente da empresa de segurança corporativa SegurPro.
As alternativas low touch terão de ser adotadas também da "porta para fora" e vão influenciar a relação entre negócios e clientes. É o caso das cancelas de estacionamento e de outros pontos de atendimento, como totens de pagamento e caixas eletrônicos de bancos. Segundo rumores, um grande banco brasileiro já estuda trocar a identificação do correntista da impressão digital para a identificação facial.
Modificar processos depende, claro, do "fator humano". A fábrica da Volkswagen no ABC Paulista deve retomar atividades no dia 18 deste mês. Para garantir o cumprimento de medidas de segurança, funcionários agirão como monitores e vão separar aglomerações.
"Todo mundo vai ter de respeitar. Vamos esquecer hierarquias. O monitor poderá chamar a atenção de qualquer um, até de mim", disse Pablo Di Si, presidente da Volkswagen na América Latina, durante a série de entrevistas Economia na Quarentena, na semana passada.
"E sempre haverá formas de driblar regras", alerta Leonardo Fonseca Netto, diretor da NEC. A câmera que identifica funcionários febris, por exemplo, só é capaz de medir a temperatura no momento em que filma a pessoa. "Não sou contra a solução, mas, se a pessoa tiver tomado um antitérmico horas antes e a temperatura estiver temporariamente normal, a câmera não vai identificar nada", pondera.
De acordo com a opinião de todos, essa é a prova de que a tecnologia pode ir longe, mas não é capaz de garantir que humanos desenvolvam certas qualidades.