O mais novo e recém-lançado filme documental da Netflix, "O Dilema das Redes", expõe um assunto totalmente essencial hoje em dia: o perigo do excesso do uso das redes sociais.
O longa-metragem pode até parecer que não aposta em questões tão novas, já que, atualmente, muito se fala sobre o mau uso das redes, sobre como os algoritmos comandam a nossa vida, como o uso de algumas plataformas nos deixam mais ansiosos, deprimidos e interferem diretamente em nossa autoestima.
Com isso como fonte central, a Netflix priorizou escancarar o funcionamento tecnológico por trás de cada aplicativo, mostrando como eles nos manipulam e aproveitam da nossa vulnerabilidade para lucrar cada vez mais.
Exatamente não estamos diante de uma obra com temática inédita. Há muita coisa escrita e produzida sobre o assunto, como os filmes "Privacidade Hackeada" e "Redes de Ódio", mas retornando ao título atual, que mesmo tendo uma temática semelhante, é diferente e merece um tanto mais de atenção do que os outros dois para aqueles que querem mais do que se divertir.
A obra documental discute não como o ódio é produzido no indivíduo ou como nossa privacidade individual está em risco, mas nos apresenta o que é o interior da produção e bastidores de conhecidas plataformas. E mostra também como tanto o designer quanto os algoritmos são/foram pensados para nos controlar e fazer reproduzir aquilo que eles acham importante a partir da lógica do negócio, com forte ideologia para o dinheiro.

(Foto Netflix)
Durante o decorrer da produção você vai sendo informado por ex-executivos de Big Techs como Guilhaume Chaslot, que ajudou a criar o mecanismo de recomendação de vídeos no YouTube; Justin Rosestein, um dos co-criadores do botão curtir no Facebook; e Tim Kendall, ex-diretor de monetização do Facebook.
As análises desses ex-funcionários de Big Techs vão sendo intercaladas com excelentes reflexões de Shoshana Zuboff, professora de Harvard e autora de "The age of surveillance capitalism" e Jaron Lenier, filósofo e autor do livro "10 argumentos para você deletar suas redes sociais agora". E também por esquetes ilustrativas do funcionamento das máquinas. Aliás, este recurso utilizado pelo cineasta Jeff Orlowski dá uma dinâmica lúdica e elucidativa às entrevistas que tornam o filme mais pop e mais fácil de ser assimilado.
A principal reflexão de "O Dilema das Redes", além da explicação de como funcionam as plataformas, é de que elas podem gerar danos no comportamento das novas gerações. Este é o grande debate que o documentário traz e que precisa ser realizado com bastante seriedade.
É preciso pensar em regulamentar os algoritmos da mesma forma como se regulamenta o uso da água e do ar. Porque o vale tudo neste segmento pode tornar o mundo absolutamente tóxico e irrespirável. E isso o documentário mostra com bastante força.
(Foto Reprodução)
Evidente que isso precisa ser feito com a maior participação possível da sociedade e não apenas pelo governo em curso, para que a regulamentação não se torne um controle ainda mais absoluto. Mas é inevitável começar este debate.
Porque hoje os algoritmos decidem inclusive o que você vai ver até na plataforma que conduz o filme em questão ou que assunto você vai ler na internet. Isso sempre mirando a lógica do lucro e os interesses da empresa que os produzem.
Por fim, basta você assistir "O Dilema das Redes" para pensar em se engajar na luta pela democratização das redes, reconstruí-las para a democracia e livrá-las do domínio das Big Techs, o que é muito mais complicado, mas é o único caminho que temos.