Nos últimos dias começaram a ganhar força na web teorias da conspiração que relacionam a epidemia do novo Coronavírus com a implementação da rede de internet 5G. São várias as mentiras que circulam principalmente em plataformas como Facebook e YouTube, e causam preocupação em quem repassa os boatos sem checar a veracidade.
"As redes 5G são totalmente seguras. Existem dezenas de artigos que confirmam a segurança do 5G, inclusive publicados pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS)", esclarece Paulo Bernardocki, diretor de redes da multinacional de telecomunicações Ericsson.
As plataformas online já tomaram medidas para combater a disseminação de informações falsas. Para a OMS, trata-se de um caso de "infodemia" – epidemia de mentiras que ganha tração no ambiente digital e confunde as pessoas, da mesma forma que ocorre com o movimento anti-vacina.
Uma das teorias da conspiração mais compartilhadas na rede diz respeito à cidade de Wuhan, na China. Acredita-se que essa tenha sido a região de origem do novo Coronavírus e, paralelamente, foi um dos primeiros locais em que o 5G foi lançado. Entretanto, a relação entre esses dois fatores não está diretamente ligado. Isso porque é válido lembrar que o serviço ficou disponível para outras 15 cidades no país ao mesmo tempo (entre elas Pequim e Xangai) e nenhuma delas teve registros anormais da propagação da doença.
(Foto Getty Images)
"Isso não nenhum sentido”, afirma Bernardocki. Ele lembra que o 5G já está em uso em diversas localidades do mundo, como nos Estados Unidos, em mais de uma dezena de cidades, na Espanha, na Suíça, na Inglaterra e Suécia. "A gente não consegue fazer correlação entre coronavírus e 5G", esclarece o especialista da Ericsson.
Exitem ainda fatos mentirosos que defendem que o COVID-19 seria uma forma encontrada para mascarar os verdadeiros sintomas causados pelo uso do 5G. Inclusive, para eles essa seria uma maneira de explicar os recentes acontecimentos no cruzeiro Diamond Princess, que teve que manter os passageiros em quarentena para evitar a propagação da enfermidade.
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Um fator em comum na fala de muitos criadores ou apoiadores das teorias da conspiração contra o 5G é a pesquisa realizada pelo físico Bill P. Curry no ano 2000. O estudo analisou dados e concluiu que a dose de radiação que afeta o cérebro seria capaz de aumentar conforme a frequência do sinal sem fio aumentasse. Na época, a descoberta se espalhou e propagou o medo.
"Estes pontos foram mapeados. A radiação eletromagnética faz parte do nosso dia a dia. Está presente em telefones celulares, antenas de televisão e de rádio, microondas e controles do portão da garagem. Tudo isso usa radiação eletromagnética", diz Paulo Bernardocki.
Ele lembra que o 5G ficou em desenvolvimento por uma década e que diversos estudos foram conduzidos em várias partes do mundo até se chegar ao formato atual, considerado seguro.
Diante da preocupação, o sistema de saúde da Inglaterra divulgou um comunicado afirmando que não há evidências convincentes de que a exposição abaixo das diretrizes da Comissão Internacional sobre Radiação Não-Ionizante (300GHz) possa causar efeitos prejudiciais à saúde. No caso, os dados móveis do 5G são transmitidos pelas mesmas ondas de rádio do 4G e 3G, e sua frequência não ultrapassa a casa das dezenas em GHz. Dessa maneira, é possível afirmar que não existe qualquer tipo de alteração no DNA humano.
Tanto o Facebook quanto o YouTube já começaram a tomar medidas para evitar que esse tipo de conteúdo falso à respeito do vírus seja propagado nas redes. Um exemplo disso é que, ao pesquisar por "Coronavírus" no Facebook, os usuários serão direcionados a fontes confiáveis sobre o assunto, como o a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A plataforma também baniu qualquer tipo de anúncio que ofereça soluções 100% eficazes de combate à doença. A proposta da rede social é impedir que a desinformação seja disseminada, promovendo o conteúdo de confiança e limitando o compartilhamento de notícias falsas. Ainda que a empresa conte com uma equipe terceirizada de checagem de informação, o processo se torna ainda mais trabalhoso quando são levados em consideração os grupos privados, onde as "fake news" ainda são muito presentes.