Uma viagem sobre a evolução da eletrônica nos sneakers

Uma viagem sobre a evolução da eletrônica nos sneakers

Por Rodrigo Dhakor

Quando o mundo viu pela primeira vez Marty McFly usando um Nike Air Mag em 1989, a noção de combinar eletrônica e tênis era praticamente voltada para a ficção científica.  

Em 2011, Tinker Hatfield  junto com a Nike lançou uma edição especial de um tênis idêntico ao do longa de 1989, mas sem os cardarços automáticos. No comercial, o Dr. Brown, o inventor da viagem no tempo, teria se enganado no ano e chegado em uma época em que os chamados power laces ainda não haviam sido inventados. Foram leiloadas cerca de 1.500 unidades da linha chamada Nike MAG e foram arrecadados quase 6 milhões de dólares. O dinheiro foi doado para a instituição de pesquisa do Mal de Parkinson, mantida por Michael J. Fox.

Mas antes disso, sabemos que a busca por diferentes tecnologias em calçados já percorreu um longo caminho. Engenheiros e projetista tentam há décadas integrar o avanço eletrônico aos tênis de consumo, mas nesses pouco mais de trinta anos o muito que já fizeram não parece o bastante.

Voltamos ao começo do anos 80, era em que a progressão técnica de tênis aumentou rapidamente. Entre a década de 70 e 80, os fabricantes pediam ajuda a especialistas em pés como auxílio na busca de aliar desempenho e inovação.

Os tênis começaram ficar mais confortáveis, mais leves e mais acessíveis, à medida que a utilização de novos materiais e matérias descartáveis ​​aumentavam. Tecnologicamente, o sistema analógico começou a abrir caminho para o digital, à medida que o desenvolvimento e a produção em massa de produtos eletrônicos dispararam. 

No fim da década de 80, o lançamento do longa "De Volta para o Futuro II", pode ter prenunciado os tênis "automáticos" de hoje, mas foi a Adidas a primeira marca que concebeu o primeiro tênis com microcomputador bem antes disso, em 1984. O Adidas Micropacer tinha um design futurista meio espacial, continha um microprocessador "avançado", que coletava dados sobre tudo, desde a distância percorrida até as calorias queimadas. Esta informação era transmitida de um sensor eletrônico para uma tela digital de leitura encontrada na língua do tênis esquerdo, único lado que mostra um visor digital. (Considerando que na época os relógios digitais ainda eram considerados "tecnologicamente altamente avançados"). 

(Foto Adidas)

Pouco mais de um ano depois, em 1986, a Puma lançou seu tênis com "adição de computador", o RS Computer. A robusta unidade no calcanhar com conexão para computador foi superdimensionada para executar funções tecnológicas.  O sistema do tênis podia medir dados enquanto você o utilizava, e também permitia que você conectado a um computador, pudesse analisar todos os dados de desempenho. Tudo que era preciso além dos tênis era um Apple IIE, Commodore 64 ou IBM PC (computadores pessoais da época)

 

Depois das inovações dos anos 80, a próxima década prometia progresso aos eletrônicos usados nos tênis. Durante o início dos anos 90 já era também possível flexionar e adicionar ajuste com ar a um par de tênis de basquete, por exemplo, um sinal de status com a chegada do Reebok Pump. Mas nada eletrônico, deixando espaço para outra novidade tecnológica dominar as vendas entre os menores de 15 anos: as luzes LED.

Em comparação aos tênis que coletavam dados lançados nos anos 80, essa tecnologia parecia bastante arcaica. No entanto, se você fosse criança, não se importaria com isso. Era preciso ter luzes nos seus pés para ser uma das "crianças legais".

Em 1992, a marca LA Gear, do fundador da Skechers, Robert Greenberg, era o homem responsável pela marca na época, lançou os onipresentes tênis LA Lights que iluminavam os corredores da escola. Vendidos por cerca de US $ 50, a "onda" vendeu mais de cinco milhões de pares somente em 1992. 

 

Aqui no Brasil, o Le Cheval Break Light foi sucesso por conta do modelo ter uma espécie de luz de freio. Toda vez que você pisava no chão acendia uma luz no calcanhar. A garotada toda queria aquele tênis, o produto foi lançado em 1993 para esportistas, mas ganhou as ruas e foi ícone por muito tempo na década de 90. 

 

A mania do LED começou a piscar quando nos aproximamos da virada do século, e seu fim completamente anunciada quando os consumidores perceberam que os tênis possuíam itens eletrônicos venenosos. Literalmente, os pais foram rápidos ignorar a "onda" quando descobriram que os adereços continham mercúrio tóxico (usado na eletrônica) e isso estava nos pés de seus filhos. No caso do LA Gear, o estado de Minnesota até chegou proibir as vendas e distribuição, bem como forçou a empresa a pagar US $ 70.000 em custos de descarte e montar um serviço de reciclagem via correspondência. No Brasil não há informações a respeito do Le Cheval.

Os anos 2000 chegaram e as marcas passaram a compensar todo um "tempo perdido". Grandes projetos surgiram, os conceitos eram ambiciosos, mas os erros eram constantes.

Os micromotores formam o padrão tecnológico da década. A Rebook lançou em 2004 o Pump 2.0, introduzindo uma função de auto-bombeamento. Os benefícios do bombeamento eram o mínimo discutível, e o tênis não conseguiu conquistar os entusiastas do calçado de desempenho.

(Foto Reebok)

Em seguida, a Adidas trouxe em 2005 os modelos Adidas_1 e Adidas_1 BasketballOs tênis apresentavam um microprocessador na midsole com um sistema de amortecimento ajustado via motor, que trabalhava rapidamente para tornar a midsole mais firme ou mais macia, dependendo das condições e do impacto. Foi uma ideia muito legal na teoria, mas o motor apresentava muitos problemas de durabilidade para um tênis que na época custava US $ 250,00.

 

(Foto Adidas)

Em 2008 o modelo Adidas_1 Smart Ride chega em uma nova geração com modificaçoes significativas no design, uso de materiais de alta performance e a introdução do adiprene , dando o máximo de leveza e respirabilidade ao modelo, além de aperfeiçoamento do microchip capaz de realizar até 4000 cálculos por segundo.

(Foto Hypebeast)

Em 2006, a Nike lançou algo mais funcional para a época: o Nike +. Junta à Apple, a Nike introduziu funções ao modelo Nike Zoom Moire, que permitia que por meio de um sensor os corredores sincronizassem seus iPods e posteriormente seus iPhones, rastreando quilometragem, velocidade e outras estatísticas relacionados a corrida. Agora toda tecnologia vista e desenvolvida para os tênis nos anos 80 passara a estar dentro de um smartphones.

(Foto Nike)

A tecnologia de cardaços automáticos sempre foi um sonho da Nike. Em 2010, uma americana apresentou um projeto que consistia em um pequeno motor localizado na parte de trás do calçado para que ele se amarrasse sozinho. Nascera ali toda uma nova corrida para apresentar ao mundo o sistema de amarração automática. 

Em dezembro de 2016, a Nike anunciou a chegada do HyperAdapt 1.0. O projeto trouxe um tênis de corrida futurista que "amarra sozinho". Totalmente inspirado no Air Mag, o calçado possui uma tecnologia capaz de ajustar os cadarços automaticamente de acordo com o pé da pessoa e sua necessidade durante o movimento. Para quem preferir fazer esse ajuste manualmente, há dois botões laterais que permitem ao usuário apertar ou afrouxar da maneira conforme necessidade. O problema? O preço de US$ 720,00.

(Foto Nike)

Chegamos em 2019,  ano do anuncio de um tênis controlado por um iPhone e capaz de se ajustar ao pé do usuário com ajuda da tecnologia FitAdapt. O novo Nike Adapt BB foi feito especialmente para jogadores de basquete e oferece a proposta de ajudá-los a ter um desempenho melhor nas quadras.

O calçado conta com um sistema avançado com motor próprio capaz de sentir a tensão que o pé necessita e dessa forma ajustar o quão apertado ou folgado o tênis deve estar. Tudo isso controlado através de um iPhone em um aplicativo dedicado da empresa ou através do próprio tênis pelos botões laterais, ficando a critério do jogador.

 

A ideia é que, por exemplo, durante as pausas nas partidas, o jogador possa “afrouxar” um pouco o tênis no pé para relaxar e ficar mais confortável, e quando o jogo recomeçar, ele pode ajustar o aperto mais uma vez antes de voltar para o centro da quadra. A Nike prometeu que em breve o Nike Adapt BB também terá um recurso para identificar o melhor aperto para aquecimento pré jogo.

Passo gigantesco na evolução tecnológica dos sneakers, o novo tênis é equipado com uma bateria de 505mAh, ela garante que o usuário possa usá-lo de 10 a 20 dias, dependendo da frequência de uso em cada dia. Para recarregar a bateria toda, ele requer 3 horas de carga.

A empresa também afirmou que ele chegou como uma evolução do seu HyperAdapt 1.0 e com isso ele se torna o primeiro produto com desempenho atualizado, já que é uma evolução do antigo.

Outros modelos atuais apresentaram algumas outras novidades tecnológicas, mas ainda não chegaram a larga escala ao público com suas fiéis versões completas que apresentavam as novidades. Exemplos como a collab que trouxe o modelo friends & family do Cactus Plant Flea Market x Nike Air VaporMax 2019, modelos com visor interativo da Louis Vuitton, silhuetas da Balenciaga e outros vistos de fevereiro pra cá.

O que teremos de novo daqui a alguns dias, meses ou anos ainda não sabemos, mas todo esse conteúdo foi o bastante para que possamos entender e esperar as próximas novidades tecnológicas do mundo do sneakers.